CIÊNCIA POLÍTICA NA PARAÍBA – da era pré-feudal à
autopoiesis da nova política
Bäume verhindern Sie, um den Wald zu sehen
As árvores impedem de ver a floresta
(provérbio alemão)
Tempo terceiro…
Para o intento proposto, o último dos tempos.
A comunicação é uma reação biológica, impulsionada por ondas eletromagnéticas produzidas a partir do movimento corpóreo. Aqui, obviamente, uma das possibilidades. O pensamento grego, aquele aristotélico, afirma que o Homem é um animal social. Sinceramente, não é um pensamento, uma cognição, uma idéia, inicialmente, mas sim uma reação biológica comunicativa. Seguramente ARISTÓTELES não conheceu a Paraíba, nem tampouco o Brasil. E, principalmente, em períodos eleitorais. A comunicação é uma produção lingüística (mas não unicamente) que comunica o incomunicável da linguagem. O improvável da comunicação como linguagem produzida à luz da idéia do entendimento ou compreensão.
A comunicação, a linguagem e, conseqüentemente, as relações humanas que produzimos continuam FEUDAIS. A idéia do homo sapiens é um mito da linguagem. O homem não existe por causa da vida, das idéias, dos valores, dos princípios, mas sim por que inventou uma linguagem. A comunicação produzida há um pouco mais de 2 mil anos fez surgir a divisão entre mundo Ocidental e Oriental, como escreveu NIETZSCHE “Mundo. Uma invenção cristã, um conceito de fim ao qual endereçar cada nossa necessária ignorância”, como bem traduziu DE GIORGI.
Passado o processo eleitoral, isto é, a produção lingüístico-comunicativa que expressava frases como, p. ex., a união das oposições, a verdadeira oposição, a dança dos prefeitos, a oposição que se torna aliada, aliados que se tornam opositores, desafios para lá e para cá, partidos rachados ao meio e em diversas bandas, produção de fotos do Instagram em momento de partida no aeroporto etc., tudo em nome da DEMOCRACIA. O processo eleitoral é a festa da DEMOCRACIA. Esta palavra originária do greco antigo δημοκρατία (dēmokratía ou “governo do povo”), que tem sua aparição a partir de uma outra expressão que é δῆμος (demos ou “povo”) juntada a uma segunda que é κράτος (kratos ou “poder”), que são expressões surgidas para construir significados, mais especificamente para construir o sentido dos sistemas políticos que eram realidades nas denominadas (outra expressão) cidades-Estados como, p. ex., Atenas.
A expressão DEMOCRACIA traduz a ocultação do paradoxo da linguagem. A comunicação que comunica não comunica para comunicar o incomunicável. Para nós, digo na nossa realidade lingüística-jurídica-política a ocultação do paradoxo é identificada no artigo 1º, Parágrafo único da Constituição do Estado, quando diz que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Pode-se constatar que o exercício direto somente aparece depois da expressão REPRESENTANTES, a questão é que na palavra DEMOCRACIA a expressão POVO aparece primeiro e PODER depois. Qual o sentido de eu ser possuidor de um poder e transferi-lo para outro que irá exercer no meu lugar? Nenhum! Mas assim se oculta o paradoxo, pois ele que faz com que ocorra a operacionalização do sistema. A expressão paradoxo não pode ser interpretada como contradição, oposição, mas sim como condição de operacionalidade, sem a qual o sistema é bloqueado.
A expressão o poder emana do povo não tem sentido, o “povo tem poder porque é privado do poder” (DE GIORGI). Mas esta expressão constrói o sentido do não-sentido que é a ideia da não ideia traduzida como Estado direito, Estado social de direito, sociedade democrática. E, ainda, expressões bem mais ridículas como, p. ex., Estado constitucional. As invenções lingüísticas que surgem para dar sentido à existência humana. Mas o processo eleitoral chegou ao fim, a verdade da não verdade da DEMOCRACIA finalmente apareceu: vencedores e vencidos. Um processo eleitoral cognitivo? Não nos convence! Os hormônios sossegaram, a biologia assentou e a comunicação continua cumprindo a sua função: ora a aproximação entre os humanos, ora o distanciamento entre nós.
Mas, depois do repertório eleitoral de lições de memória política; levantamentos sociológicos; indicações estatísticas; referências normativas e principiológicas; argumentações retóricas difusas, toda essa produção de linguagem cumpriu a função de criar um mundo para ocultar outro: o do PODER. A comunicação da linguagem traduzida na fantasia de uma palavra: a DEMOCRACIA. Para provocar: a DEMOCRACIA como expressão científica da linguagem do homem ocidental. Mas por trás ele: o PODER, tão elucidado nas letras de BERTRAND RUSSEL, MAX WEBER, MICHEL FOUCAULT e NIKLAS LUHMANN, pode-se perceber que das massas aos intelectuais, com exceção daqueles que constroem e detém o poder econômico, não se lê, ouvi ou assiste uma referência sequer ao PODER, tudo gira entorno da DEMOCRACIA.
Inacreditável como nós, no nosso tempo presente do século XXI, continuamos como os iluministas, modernos, liberais, burgueses, artesãos, comerciantes, clero: alto e baixo, lordes, súditos etc., como nos ávidos 1648 (Inglaterra), 1787 (United State of America), 1789 (França). Inacreditável como a comunicação, a linguagem e os discursos são tautológicos e autopoiéticos. Para além, a comunicação lingüística que produzimos ainda está bem lá atrás, ela é FEUDAL. A nossa linguagem é feudalista, sempre no intuito de invadir e dominar o outro, uma linguagem de estamentos, uma comunicação suserania. Mais uma vez: a comunicação que não comunica para comunicar o incomunicável. A linguagem da não linguagem da língua. As palavras da não palavra das palavras. As letras da não letra das letras.
No domingo, dia 26 de outubro de 2014, a partir das 19h00 fico em frente a TV para acompanhar as narrativas de análise do processo eleitoral, particularmente no que se refere à concorrência para a Presidência da República. Os comentários, as narrativas, as análises jornalísticas foram inacreditavelmente desacreditáveis. O nível lingüístico dos jornalistas alcança o total desencanto, não há outra expressão que traduza as narrativas e análises produzidas pelos meios de comunicação social: linguagem vazia. Os canais de TV, sejam aqueles por pagamento ou a TV convencional conseguem a alquimia de informar quanto à desinformação. Os meios de comunicação social atingem o estágio de utilizar horas e horas em comunicações que não comunicam. A comunicação social no Brasil é um ENSAIO oral sobre a cegueira da linguagem.
A expressão mais ouvida e assistida foi: o país está dividido. Não podemos nos espantar, pois a memória é um esquecer seletivo. Mas já que a argumentação produzida foi esta, cabe indagar: então, quando o Direito legalizava a escravidão neste país a nação estava unida? Quando um homem branco tinha como propriedade um homem negro, neste país, propriedade esta (o homem negro) regulada pelo Direito, a nação estava unida? Agora que o Direito regula outras matérias, a comunicação social “politizada” produz linguagem no sentido de afirmar que a nação está desunida, dividida, separada. A mais cômica de todas as linguagens é produzida num programa de TV por assinatura transmitido in direta de New York, leva o nome de Manhattan com Merdam.
A nossa comunicação, a nossa linguagem não consegue ultrapassar a fronteira da tautologia e da autopoiesis. Sem nem disponibilizar muitas expressões para o aparecimento da mais nova linguagem intitulada A NOVA POLÍTICA, que uma senhora decidiu colocar no espaço das linguagens e que não conseguiu sobreviver para além do final do primeiro turno do processo eleitoral. A questão é que nossa linguagem surge sempre para dominar o outro, escravizar o outro, construir PODER e dominação assim se formula os modelos de civilidade com uma comunicação incomunicável.
Por ora, tudo chegou ao seu final.