O século passado realizou as promessas de um pensamento que já havia percorrido dois séculos e que havia celebrado como aquisição de
civilidade. A razão que era subjacente deste pensamento era a
razão de um iluminismo que assegurava que seria construída
racionalmente condições justas para a humanidade e que
os indivíduos, a que igualdade se condensava no
gênero e a que homologação se sublinhava na
razão, não podiam opor-se à realização
do bem comum.
A realização daquelas promessas se revela evidente já ao início do século, quando sobre o teatro do mundo, daquele mundo da razão e da
humanidade, começa, por usar uma fórmula hegeliana,
a representação da tragédia na ética, que o absoluto
recita como si mesmo.
Uma tragédia que ainda continua…
Raffaele De Giorgi
Mondi della Società del Mondo
Tempo segundo…
Falo eu, falas tu, fala ele, falamos nós, falais vóis, falam eles. Um determinado teórico dos sistemas sociais afirmou que “a comunicação social é um evento improvável” (Luhmann). Mesmo no caso de a comunicação social atingir algum sucesso ela provocará espanto. Quando se fala (o emissor) não há garantia de que o destinatário (receptor) da mensagem tenha entendido, pelo contrário o cenário é o da não-garantia, mesmo que ele (o receptor) informe que entendeu, a sua sinceridade pode não ser uma comunicação. Ou, mais ainda, ser a comunicação da não-comunicação. Mas este é apenas um lado do pensamento teórico; existe outro, pois a comunicação é um evento de extrema complexidade, mas à luz da hipótese dela atingir sucesso: a interação comunicativa (algo improvável), vislumbra-se outra complexidade que é a premissa dela própria desaparecer, em função da sua esterilidade natural. Por outras palavras, se a comunicação funciona revela-se monótona, desinteressante, sem encanto, não movimento a biologia, não provoca reações que a distinção elabora como racionais ou irracionais.
A observação que ora se realiza com o título de “Ciência Política na Paraíba – Maleparole e a forma de redução drástica da complexidade cabarelística” (segundo texto da trilogia), identifica que todos falam, mas a comunicação que produzem somente produz não-comunicação. O processo eleitoral que atinge seus últimos momentos guarda uma memória “riquíssima” de não-comunicação, em um curtíssimo espaço de tempo. As manchetes dos jornais, portais e blogs; o noticiário televiso e radiofônico, estampam o paradoxo lingüístico da racionalidade-irracional da comunicação que não-comunica dos políticos. O cenário produzido pela comunicação política no processo eleitoral transparece um banquete de linguagem tautológica e circular. A regra lingüística é a tautologia e a circularidade dos discursos políticos, na representação da reflexividade, autoreprodução e paradoxalidade.
O banquete é servido numa longa mesa: aliados que se tornam inimigos; inimigos que acordam pela manhã como aliados; traições políticas fragmentadas e indiscriminadas; políticos enciumados que abandonam a cena pública; institutos e pesquisas eleitorais que se publicam e não se publicam; partidos que se vendem, políticos que compram horário eleitoral na bolsa da política (wall street politics); estatísticas de cabeça para baixo; pensões que sofrem mudança de titular; acusações de superfaturamento no ar ou aéreo; mensalão à moda Paraíba; insurreições partidárias com a comunicação que não-comunica de independência e laços históricos; malas de dinheiro que circulam livremente; áudios e vídeos que aparecem pelo buraco da camada de ozônio. Querem mais? É que a minha memória é seletiva, meu cérebro vive em função de um esquecer seletivo, por isso na minha pasta c: somente estão registrados os acontecimentos supra.
Basta. Basta mesmo. Basta com essa linguagem cabarelística. Nessa reta final do processo eleitoral faz-se necessária construir a interação comunicativa. Há um dispositivo lingüístico que pode contribuir enormemente para garantir a continuidade do processo comunicativo, a seqüência da integração. Pode-se assim afirma que esse “dispositivo é condensado no que chamamos palavrões, incorrendo em um moralismo que ofende a história, a semântica, a teologia, a lógica e a teoria dos sistemas” (De Giorgi). Como bem lembra o pensador de Vèrnole: o conceito de palavrões é como o espírito absoluto: em si e por si.
Já passou da hora de mandar os políticos para aquele lugar. Levem sua linguagem cabarelística para aquele lugar. A expressão lingüística palavrões se apresenta como um recurso fantasticamente adequado para se cumprir a função. Ela, a expressão palavrões pode realizar a função de reativar uma possibilidade apagada, reconstruir a construção, representar o mundo no mundo. Que os políticos e seus assessores – não que se espera que compreendam –, estejam de olhos e ouvidos abertos. Fazendo uso da construção do pensador de Vérnole, elenca-se alguns exemplos: Sanhund (alemão); beasi salatd (francês); kopek kopek oglu (turco); Arschloch (alemão); ojo del culo (espanhol); Gótlek (turco); trou-ducul (francês); arshehole, buns, gee-gee, bottom (inglês). No campo das divindades; por um lado, para uma comunicação de desaprovação com os deuses; e, por outro, para uma comunicação indireta com os políticos, surgem outros exemplos: putain d`Hon dieu d`merde (francês); Himmel, Arsch und Zwim (alemão). A representação do sublime e do profano na idéia de mundo do mundo.
Os palavrões assumem a função de redução drástica das complexidades lingüísticas cabarelísticas da sociedade moderna. Como é bem lembrado nas expressões que afirmam “desprovido deste sólido sentido condensado a modernidade teria deixado dormente a interação na entediante busca do sim ou o encerramento do não. Este condensado, no entanto, ativa o potencial inexplorado da comunicação social, a marca de censura que segue sempre algo ao qual se conecta a comunicação. São aquisições evolutivas da diferenciação da sociedade moderna” (De Giorgi).
Pela segunda vez, em grau de recurso, provisoriamente, em conclusão, nos próximos dias o TSE irá produzir comunicação sobre a vigência, validez e legalidade da coligação PT-PSB.
Aguardemos…