No transcurso da história humana, parece mesmo se confirmar a máxima que uma mentira contada cem vezes vira uma verdade, e comprovamos isto através da divulgação de falsos erros históricos que com o passar dos tempos acabam sendo incorporados definitivamente ao inconsciente coletivo materializando-se como “verdade”.
Uma dessas falácias históricas refere-se diretamente a Guarabira quando se afirma ser ela “berço das garças azuis”, sobre esse fato as perguntas que fazemos são: Quem foi o primeiro inventor dessa estória? Isso ocorreu onde e quando? Comentários a esse respeito estão descritos pelo Padre Luiz Santiago no livro “Itinerário Histórico de Guarabira” edição 1999, escrito pelo professor Moacir Camelo. Esse atrabiliário sacerdote nasceu na cidade de Remígio no ano de 1897, era um misto de latifundiário, pregador, latinista e toponímico. Vejamos o que diz este “sábio” reverendo nas páginas, 64 e 65 deste livro; “Guarabira na língua tupi quer dizer ‘Guarabira ou Guarapora’: guara-pora ou bira pospositivo nominal indicando ‘moradia’ moradia dos guarás”, e ainda afirma: “Guarabira lembra aparato faustoso das garças azuis que naquela terra tinha seu berço”.
Voltemos a novas indagações; quais fontes históricas consubstanciam essa controvertida tese do reverendo? Vamos aos esclarecimentos de alguns fatos;
1 – Berço se refere ao local de nascimento, origem. Será que essas garças na verdade tiveram aqui sua origem?
2 – Garças azuis (Egretta caerulea) são garças raras que habitam o litoral especialmente os manguezais onde ai se encontra seu alimento predileto, os crustáceos.
3 – A versão da língua tupi para o português nem sempre corresponde com exatidão o vocábulo traduzido. Guará, por exemplo, significa ave, ou pássaro e nem sempre garça.
O que em nosso meio ambiente existe, são pequenas garças brancas denominadas garças-vaqueiras (Balbucus íbis) que são insetívoras, estão sempre presentes ao lado de bovinos na cata de carrapatos utilizando-se da relação ecológica do tipo comensalismo. Nos parece crê, que a afirmação do citado clérigo não passa de uma vaga licença poética, um devaneio de visionário, carente de provas geo-históricas mais consistentes. É o que se deduz e se comprova. Se Guarabira quiser adotar um pássaro como sendo seu verdadeiro símbolo, ele já existe e reponde pelo nome de pavão (Pavo cristatus) “O Pavão Misterioso”, esse sim deva ser motivo de orgulho para os guarabirenses pois aqui nasceu em 1923 (91 anos) pela engenhosa capacidade criativa do poeta e autor Zé Camelo de Melo Rezende e que ganhou fama no mundo, constituindo-se sem dúvidas como o maior clássico da literatura de cordel de todos os tempos sendo adaptada para o teatro, cinema, música e televisão. O pavão tem levado e elevado às alturas o nome de Guarabira, embora ela não conheça e tampouco valorize o autor e a obra como bem deveria fazer. Talvez, pela absoluta falta de conhecimento de sua própria história.
Aqui nunca foi, e jamais será berço de falsas “Garças Azuis” aqui é berço do Pavão Misterioso, esse sim, é outro pássaro e é daqui.
Vicente Barbosa da Silva
Professor e Historiador