Por Pe. Demétrio Pereira de Morais*
Há alguns dias, conversando com Padre Campos, da Arquidiocese de Natal, sobre a Causa de Beatificação do Padre José Antônio Maria Ibiapina (1806-1883), o Padre Ibiapina, como é mais conhecido, ele citou este ditado popular: “Santo que não conheço, nem rezo, nem ofereço”, para justificar a importância de divulgarmos a pessoa e as obras do Apóstolo da Caridade, que percorreu 5 estados do nordeste brasileiro, assistindo aos menos favorecidos em suas necessidades.
O adágio popular com uma simplicidade extraordinária, de algum modo nos lembra que não podemos deixar passar despercebidos, no nosso dia a dia, os santos e santas com quem tenhamos convivido, ou quem sabe, conhecido através de terceiros. Ser capaz de identificar as virtudes heróicas nas pessoas de nosso tempo ou nos antepassados é algo muito importante para uma comunidade cristã, pois é reconhecer a presença de Deus em nosso meio, que convida a todos à perfeição. Calar diante dos sinais de santidade à nossa volta é virar as costas para o próprio Deus.
Lendo os evangelhos, vemos que não é tarefa tão simples perceber a presença de Deus. Destaca-se como fundamental a atitude de João Batista, que foi capaz de enxergar em Jesus o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e não somente, foi capaz também de apontá-lo aos que estavam ao seu lado. É evidente que Ibiapina não é o Messias, mas, diante dos problemas de seu tempo, soube seguir o Messias e apontar para Ele com gestos concretos de caridade em favor dos pobres.
Sendo assim, posso afirmar que temos uma grande responsabilidade, que é aquela de continuarmos transmitindo o testemunho do Servo de Deus, Padre Ibiapina, para as demais gerações, e mais ainda, iluminarmos a vida pastoral de nossa Diocese com a riqueza e profundidade do ministério sacerdotal de Ibiapina, que soube encontrar respostas concretas para as mazelas que atingiam a população pobre do Nordeste.
Queremos que ele chegue aos altares para honra e glória de Deus. A Beatificação de Padre Ibiapina e sua posterior Canonização será o sinal maior de que somos capazes de perceber Deus agindo no seu povo e através do seu povo. Mas, para isso, não podemos deixar morrer os seus gestos de caridade e misericórdia.
Entretanto, a divulgação de sua pessoa e suas obras somente serão verdadeiramente edificantes para a vida da Igreja, se com isso estivermos dispostos a fazer o mesmo que ele fez com tanto afinco: servir a Deus nos humildes. Ibiapina soube “primeirar-se”. Foi um homem à frente de seu tempo, bem antes do Concílio Vaticano II, já deixava-se guiar pelas novidades do Espírito Santo. Os que com ele conviveram puderam encontrar nele uma Igreja de portas abertas, em saída, misericordiosa e samaritana.
Demorei a enxergar tudo isso. Precisei de 10 anos de sacerdócio. E, talvez, se não fossem as novidades do mesmo Espírito que conduziu o nosso Bispo Dom Aldemiro, a traçar novos rumos para minha caminhada pessoal, certamente não teria descoberto a grandiosidade da ação pastoral de Ibiapina, que ultrapassa e muito os muros da Igreja.
Quando eu era seminarista, lembro de ter ouvido falar algumas vezes sobre Padre Ibiapina. Inclusive nos meses que antecederam a minha ida para Roma, para realizar os estudos teológicos, o então bispo de Guarabira, Dom Antônio Muniz, confiou a mim e ao Padre Elias a missão de organizar os objetos do Museu do Padre Ibiapina. Passei alguns dias em Santa Fé realizando esta missão, não lembro de ter lido nada que pudesse despertar a admiração que, há tão poucos dias, comecei a experimentar por aquele que agora tenho convicção ter sido um verdadeiro Apóstolo da Caridade.
Algumas vezes ouvi o padre Gaspar Rafael (Administrador da Paróquia N. Sra. da Piedade, Arara-PB) falar com entusiasmo sobre Ibiapina; outras vezes recebi das mãos de Padre José Flóren (Reitor do Santuário) alguns panfletos com a oração de beatificação de Padre Ibiapina, que confesso não ter dado importância. Certo estava o Padre Campos ao citar: “Santo que não conheço…”, não basta ouvir falar, é preciso conhecer, ou querer conhecer, ir às fontes. E bastou que eu fizesse uma pequena pesquisa no Google, para que eu tivesse uma dimensão da minha ignorância e cegueira. Fiquei impressionado com a quantidade de referências ao meu irmão no sacerdócio, que para mim era quase um desconhecido, e no mesmo instante, senti vergonha de não conhecê-lo melhor, e de ter falado tão pouco dele ao longo dos meus 10 anos de padre.
Servo de Deus, Padre Ibiapina, Apóstolo da Caridade, Inspirai-nos!
*Graduado e Licenciado em Filosofia
Graduado em Teologia
26/07/2018