Recorro ao movimento estudantil dos idos de 1997 para fazer uma homenagem ao mais novo advogado mariense, incluso na relação dos aprovados do exame de ordem da OAB divulgada nesta segunda-feira (9). Luciélio Alves de Araújo ou simplesmente Célio Alves, codinome que ganhou ao chegar aos batentes da Rádio Rural de Guarabira no final dos anos 90.
Eu era o presidente do Grêmio Estudantil Adauto Paiva, da Escola Estadual José Paulo de França, na cidade de Mari. Na foto acima estão os diretores da entidade. Consigo enxergar Robinho (magro, de dentes graúdos e imitador de palhaço), Joseilda (compenetrada e inteligente), lá atrás está Suely (amiga, boa de matemática e ainda se aventurou pelas artes cênicas), Fabiana (sonho de consumo dos adolescentes), Gedeão, de óculos (do tipo nerd, crânio privilegiado), Luciano Campos (fala mansa, de bem com a vida e metido a cantor) e ele, Célio Alves.
O filho de Dona Toinha e Olívio Sales, irmão de Luciano, Andréia e Lenilson. Sempre foi um menino prodígio que impressionava pela desenvoltura com que discorria sobre temas como política e futebol. Conversava como gente grande e argumentava a história da política paraibana e mariense com dados e precisão de datas que ninguém ousava em apresentar contra-argumentos. Ainda naqueles tempos passados os mais velhos já diziam: esse menino vai longe.
No grêmio estudantil fomos revolucionários ao criar um jornal periódico que contava as minúcias da escola e mexíamos com fogo. A expressão “professor aloprado”, publicada no Arauto, numa referência subliminar que fizemos ao mestre Pedro Gonçalves Nunes nos rendeu quase uma execração pública. O diretor, ex-delegado Clemir Claudino Soares, reuniu os componentes da agremiação e fui até ameaçado. Por sorte, o deputado Padre Adelino nos conseguiu o advogado Noaldo Meireles Belo, que acompanhou tudo e nos safamos daquele imprensado.
Tive a oportunidade de conviver por anos e anos com aquele garoto de pernas e braços longos. Aprendi muito com as conversas intermináveis que varavam a madrugada na calçada da estação de trem. Falávamos de futuro, de estratégias do movimento estudantil que fazíamos, de política, de religião, de futebol e claro, de mulheres.
Sem mais delongas, em 1998 passei no vestibular para cursar Comunicação Social na UFPB, segui para João Pessoa e Célio foi convidado por Nárriman Xavier para fazer um teste na Rádio Rural AM. Quatro anos mais tarde Célio já era secretário de Comunicação de Guarabira e usou seu prestígio para me convidar a trabalhar com ele na Rádio Constelação FM. Eu trabalhei no canal durante 10 anos e Célio deu voos altos. Comandou cadeia de rádio na Rede Paraíba de Comunicação (Globo), depois na Rádio Tabajara e até agora comanda o programa institucional de rádio do governador Ricardo Coutinho na condição de secretário executivo de Comunicação da Paraíba, desde o primeiro mandato de Ricardo.
Na campanha eleitoral de 2014, Célio foi encarregado de coordenar a campanha à reeleição do governador Ricardo Coutinho. Quem não conhecia a capacidade daquele jovem se espantou. Ele deu de garra da missão, trincou os dentes e deu conta do recado. Foi bombardeado no transcurso do processo eleitoral, mas não se curvou às investidas dos poderosos meios de comunicação que direcionaram artilharia pesado contra Célio. Resultado é que Ricardo foi reeleito governador derrotando Cássio Cunha Lima, antes considerado um mito da política paraibana, imbatível nas disputas até então.
Mas o sonho de se tornar advogado não se perdeu pelo caminho nessa trajetória alucinante com mudanças de plano às vezes até impostas pelas armadilhas que o destino nos impõe. Ingressou na academia ainda em Guarabira, no Centro de Humanidades da UEPB. Teve de transferir o curso de Direito para universidade particular em João Pessoa, perseverou, sofreu para conciliar as atribuições de secretário de estado e estudante. Mas o resultado até das lágrimas contidas em noites mal dormidas veio com a confirmação da aprovação na OAB.
Os amigos e a família estão regozijados com a conquista heroica daquele menino de ontem que se transformou no adulto responsável de hoje. Pena que Olívio, o velho pai, não está mais nesse mundo terreno para abraça-lo e balbuciar em voz baixa: parabéns, meu filho.