Um grupo de artistas e produtores culturais da Paraíba que apoiaram um músico em uma campanha de financiamento coletivo para custear o tratamento de um suposto câncer denunciaram o artista à Polícia Civil por suspeita de estelionato. Segundo os artistas, Matheus Brisa foi diagnosticado com pangastrite e estaria usando o dinheiro arrecadado – R$ 23 mil – para outros fins.
Ao G1, Matheus informou nesta quinta-feira (2) que não agiu de má fé e que pede desculpas por ter feito a vaquinha. “Admito que agi de forma precipitada, mas como eu estava mal, pedi ajuda como qualquer um pediria. Usei este dinheiro para pagar vários exames para ter a confirmação e graças à Deus eu descobri que não estava com câncer, mas com outra doença grave. Por isso apaguei o vídeo original e postei outro falando sobre o que aconteceu. Eu quero entregar este dinheiro que não estou usando”, disse o músico.
O caso começou em abril deste ano. Matheus Brisa abriu uma campanha de financiamento coletivo informando que havia sido diagnosticado com linfoma de Hodgkin e que precisava do dinheiro para poder custear o tratamento, já que a família não poderia ajudar. A meta era arrecadar R$ 15 mil e o músico conseguiu mais de R$ 23,6 mil, além de doações que foram feitas para a conta pessoal do artista.
O G1 recebeu cópias de boletins de ocorrência de pessoas que denunciaram o artista por suspeita de estelionato. Em um deles, uma produtora cultural de João Pessoa, que preferiu não se identificar, contou que faz parte de um coletivo de artistas e agentes culturais da Paraíba e que ficou sabendo, no dia 27 de abril de 2020 do vídeo postado por Matheus falando sobre a doença. O vídeo foi apagado das redes sociais do artista.
No boletim de ocorrência, ela conta que se sensibilizou com o vídeo e que se prontificou para se mobilizar, junto com outras pessoas do grupo, a ajudá-lo, divulgando o link da campanha.
A produtora explica que após arrecadar o dinheiro, foi procurar saber com o artista sobre o tratamento e que se surpreendeu ao saber que o diagnóstico não era de câncer e que o artista havia parado de divulgar as informações sobre o tratamento e bloqueado várias pessoas que ajudaram na campanha.
“Ficamos chocados por saber que ele comprou moto, celular e vem realizando lives, produções de audiovisual que exigem investimento de recursos para serem feitas”, diz a mulher no boletim de ocorrência.
Tiana Dantas, outra pessoa que também prestou BO à polícia, conta que já teve câncer e que faz parte de uma rede de pessoas que venceram a doença e que ajudam outros pacientes. Ela disse que ficou sabendo da história de Matheus e que na primeira semana o ajudou, até levando ele para a casa dela.
“Eu me mobilizei, levei feira para a casa dele, comprei suplementos vitamínicos que ele poderia precisar para ficar bem e ainda consegui apoio de outras pessoas para levá-lo para o hospital. Mesmo sem o conhecer, eu cheguei a levá-lo para a minha casa por alguns dias, porque ele dizia que estava sem poder ver a família”, diz Tiana.
Ela conta ainda que na primeira semana após a vaquinha, começou a suspeitar do comportamento de Matheus. “Ele falava que estava muito mal, quando eu não estava por perto, mas nos dias em que eu estava com ele, ele nunca demonstrou nenhum sintoma de doença alguma, inclusive parecia ‘até contente’ com as interações de pessoas famosas e com a repercussão que as redes sociais dele estava tendo. Em outra ocasião, alegou que não estava conseguindo acessar a conta corrente dele, mas hoje acredito que era para que eu não soubesse o valor que foi depositado diretamente”, disse.
Tiana disse que na primeira quinzena de maio, uma irmã de Matheus apareceu e se prontificou para levá-lo para Lucena, onde ela mora. “Ali foi a última vez que eu tive alguma notícia dele. Ele ficou de me avisar sobre o diagnóstico dos exames para a doença, mas não fiquei sabendo de mais nada”, conta.
A situação, segundo Tiana, se agravou no domingo (28), mais de um mês depois que ela teve o último contato com ele. “Algumas pessoas que o ajudaram no começo da história suspeitaram que ele tinha comprado uma moto e começaram a cobrar a prestação de contas do dinheiro arrecadado. Por pressão, ele ligou para mim para dizer que não tinha mais o câncer, mas uma pangastrite, doença diferente do linfoma que ele informou. Hoje eu percebo que várias coisas que ele fez durante o tempo em que o ajudei eram contraditórias e só mostravam que ele sabia que o que tinha não era grave mas escondia das pessoas. Fico triste por ter me mobilizado, por duas semanas, esquecendo família e casa e me arriscando, já que sou uma pessoa do grupo de risco da Covid-19, para no fim saber que deu no que deu”, relata.
Fonte: G1PB