Os textos que farão parte desta coluna (crônicas) intitulada O Observador representam a tradução de um processo construtor de um olhar sobre os diversos subsistemas (política, economia, religião, direito) do sistema social ou sociedade. Devem significar o olhar observador do teórico social sobre as relações comunicativas que constroem a Sociedade ou a Teoria da Sociedade, relações de comunicação que são relações sociais. O título O Observador traduz um sentido científico construído no espaço da sociologia, neurociência, cibernética e comunicação por teóricos como, por ex., Heinz von Foerster, Niklas Luhmann, Raffaele De Giorgi.
O Observador que observa é observado. Mas não se auto-observa. É o Observador que constrói a definição dos fenômenos sociais (interação, organização, sistemas) com base no critério da identificação das diferenças. Por este método nasce a Teoria da Sociedade ou Teoria dos Sistemas Sociais, no entanto, o Observador que observa e é observado, mas não consegue se auto-observar, não observa tudo. O Observador só vê aqui que vê, não vê aquilo que não vê. Explicação: o nosso mundo do saber é sempre menor do que o mundo do não-saber. O olhar do Observador é a tradução de uma visão científica denominada análise sociológica, a partir dela passa a ser possível a construção de conceitos, definições, plataformas etc., que representarão as bases científicas de estudos sobre as fenomenologias sociais, sobre o agir comunicativo das pessoas que diretamente faz surgir o espaço comunitário, o espaço social, assim como o delimita. O que significa dizer que este agir comunicativo formula, p. ex., os olhares de inclusão e exclusão.
As ciências sociais somente conquistaram o status científico a partir do século XIX, antes apenas as ciências exatas, biológicas, saúde etc., eram consideradas construções científicas, portanto, pensamentos como o da sociologia, direito, economia e política não eram considerados científicos. O personagem central das ciências sociais é o Observador, ele foi o responsável pela construção científica das Ciências Sociais, ele construiu o olhar que se voltava para o passado com a objetividade de analisar o presente e perspectivar o futuro. A sociologia que ele construiu modelou as matrizes de Sociedade ou Sistemas Sociais. A problemática é que todos os modelos ou definições acerca da Sociedade, construídas pelo Observador, ruíram. Desmoronaram-se. Liquidificaram-se. Evaporaram-se. E há uma produção comunicativa ininterrupta que o Observador não consegue mais analisar, não consegue mais conceituar, não consegue mais definir.
Há um elemento novo na produção comunicativa. Ele é intitulado: complexidade. O Observador, que é o personagem titular da formulação científica passou a enfrentar enormes dificuldades para descrever as fenomenologias sociais produzidas pelo agir comunicativo. As investigações devem, portanto, partir de um olhar sobre a complexidade, ela é o novo elemento produzido pelos sistemas sociais ou subsistemas (política, economia, religião, direito). Os sistemas sociais, por intermédio das suas estruturas e processos operam pelo método da seletividade à luz de um universo de possibilidades para que possa construir assim a sua ordem. A questão é que esta metodologia faz com que o próprio sistema social ou a sociedade se torne complexa. Daí Niklas Luhmann (Soziale Systeme: Grundriß einer allgemeinen Theorie) ter escrito que a complexidade não é uma operação, não é nada que um sistema faça ou que nele ocorra, mas é um conceito de observação e de descrição, inclusive de auto-observação e auto-descrição. Mas a observação é construída pelo Observador. Se ele não se auto-observa, como poderá construir auto-observação e auto-descrição?
A descrição acima realizada informa, portanto, a situação das ciências sociais. As ciências sociais que, através do Observador, devem construir a Teoria da Sociedade não possuem uma estrutura teórica adequada. Explicação: a sociologia não mais explica, conceitua, define ou descreve o modelo atual de sociedade. Não consegue realizar uma descrição científica da sociedade moderna. Ou a nova face da sociedade moderna. O Observador está sempre com o olhar nas soluções construídas pelos autores clássicos (os primeiros observadores). O Observador consegue realizar uma colocação dos problemas, no entanto, quando do momento de formular as soluções ele sobrecarrega as antigas perspectivas. Como não consegue solucionar as problemáticas com as antigas perspectivas, opta por um afastamento dos pensamentos clássicos de solução e cria uma expressão que explica tudo, mas não explica nada, chamada: complexidade. O Observador, portanto, cria um princípio explicativo: o conceito de complexidade.
O olhar do Observador só vê: desmoronamento, liquidificação, evaporação dos conceitos formulados sobre uma sociedade que parece não mais existir. A sua matriz racional-calculadora-finalística desmoronou. As suas formulações de determinação-corroboração de elementos constitutivos insdispensáveis evaporaram. A ontologia e a antropologia tanto cultural quanto social não mais ofertam respostas para as problemáticas apresentadas pela nova face da sociedade moderna. As ciências sociais conseguirão reconquistar o status de espaço científico?
O primeiro tema ao qual nos propomos é o da maioridade penal na realidade jurídico-criminal brasileira. Nossa próxima aparição, a próxima crônica deve tratar desta complexa problemática que aflige a sociedade brasileira, portanto, os social studies of science, nas próximas letras trataram do conceito jurídico denominado pela linguagem do direito de: maioridade penal.