Em convenção partidária neste domingo, o Partido Social Liberal (PSL) oficializou a candidatura do deputado federal Jair Messias Bolsonaro à Presidência da República sem o apoio de qualquer outro partido, confirmando o isolamento político do ultraconservador. Algo que foi minimizado ao longo do dia. “Quero agradecer ao Geraldo Alckmin por reunir a nata do que há de pior do Brasil ao seu lado”, disse o presidenciável, se referindo às alianças partidárias do tucano. No evento, no centro do Rio de Janeiro, também foi reiterado o convite para que a advogada criminalista Janaína Paschoal, coautora do pedido de impeachment contra a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), aceitasse ser vice na chapa do capitão reformado do Exército. A defensora estava sentada ao lado de dele e foi ovacionada em diversas ocasiões. Mas pediu mais tempo para conversar e pensar sobre a proposta.
Com o lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, não faltaram ao longo de toda a convenção falas contra a chamada “ideologia de gênero”, o aborto, as drogas e a violência. Durante seu discurso, Bolsonaro também questionou o acordo do clima de Paris, alertando para uma suposta perda de soberania do Brasil na região da Amazônia. Levantou, inclusive, a possibilidade de deixar o tratado, como fez o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Na área econômica, prometeu “não apenas privatizar como extinguir” estatais, mas preservando aquelas que sejam estratégicas, além de falar em desregulamentações e garantias a propriedade privada. Mencionando o formulador de seu programa econômico, o ultraliberal economista Paulo Guedes, disse que “Deus não chama os capacitados, capacita os escolhidos” — uma referência ao fato de que não entende de economia, segundo admitiu em diversas ocasiões.
Quando falava de sua trajetória, disse que sua mãe era muito religiosa e que, por isso, resolveu colocar o “Messias” em seu nome. “Mas eu não sou salvador da pátria”, disse. Também pediu a união de brancos e negros, homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais — “ou trans também, não tem problema” —, nordestinos e sulistas. Falou que a ideologia é mais grave que a corrupção, e que o país não aguenta mais quatro anos de PT ou PSDB. Sinalizou que indicará um militar para o ministério da Defesa e prometeu que todas as corporações policiais do país serão reconhecidas em sua gestão, algo que levou a plateia ao delírio.
As lideranças presentes no evento dirigiram seus discursos inflamados e gritos de ordem, recebidos com fortes aplausos, contra a “esquerdalha” e a “grande mídia”, mas sobretudo menosprezaram os partidos do chamado centrão — DEM, PP, SD e PR —, que se inclinam a apoiar em bloco o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), mas também flertam com Ciro Gomes (PDT). A falta de apoio partidário a Bolsonaro foi publicamente minimizada. Na semana passada, ele foi recusado por dois partidos, o PR e o PRP, o que deve fazer com que ele chegue à campanha com apenas oito segundos de tempo de televisão. “Não temos um grande partido, não temos um fundo partidário, não temos tempo de televisão, mas temos vocês”, discursou o deputado. “Eu sei do desconforto que venho causando. Eu sou o patinho feio nessa história. Mas tenho certeza que seremos bonitos navegantes”.
Ele garantiu, contudo, ter entrado em contato com 110 parlamentares que, sim, querem apoiá-lo, e taxou os dirigentes das siglas de “dirigentes de sindicatos”. Em outro momento, disse que 40% dos deputados do centrão “estão conosco”. Durante a coletiva de imprensa convocada após a convenção, disse estar aberto a conversar com todas aquelas legendas que “não são de esquerda”, mas rejeitou a lógica do “toma lá, da cá”, falando que seus ministérios serão ocupados por pessoas com mérito e conhecimento nos temas que lhes corresponderem. “Vocês da imprensa falam que sem aliança não tem governabilidade e que o país fica parado. É melhor o Brasil parado do que afundando”, disse. Visivelmente nervoso diante dos jornalistas, mexendo as mãos sem parar, não detalhou nenhum plano ou proposta de Governo. Ao ser questionado sobre o que faria com a educação, por exemplo, disse que não haveria “milagre”, já que todos os recursos vão para as chamadas “despesas obrigatórias”. Mas se disse favorável a mais investimentos no ensino fundamental. “E não pode ter ideologia de gênero, tem que ter escola sem partido”, resumiu.
Fonte: El País/Brasil