Algumas vozes cidadãs, aqui e ali, levantam o tom para clamar por soluções ao poder público, tendo como alvo os problemas que foram se eternizando em Guarabira, tanto por incompetência na gerência da coisa pública, quanto pela falta de uma de um planejamento capaz de contemplar o futuro (de verdade), entendendo e atendendo a cidade, que continua crescendo e se amontoando, em território urbano cada vez mais diminuto.
Tomara que isto aconteça mais vezes e que envolvam mais vozes. Refiro-me, especificamente, ao pronunciamento sério e grave do radialista e advogado Cláudio Cunha, postado em vídeo nas redes sociais, mostrando o quanto somos, em Guarabira, desrespeitados e relegados à condição de cidadãos de segunda categoria. As soluções quando se esboçam, como consequência de clamores decenais, vêm tarde e chegam com ares de favor. Os transtornos causados à população, têm ensejado defesas apressadas e pouquíssimo articuladas, limitadas à máxima de que estaríamos pagando o “preço do progresso”.
Trata-se do decantado esgotamento de águas pluviais da Pedro II, que vem provocando mais incômodos do que deveria e por muito mais tempo do que se esperava. O fato tem transformado os dias de quem tenta se mover nas áreas abrangidas pelas obras, seja de carro ou a pé, em um verdadeiro inferno. Some-se a tudo o risco do pedestre ou motorista, submergir em alguma vala, por falta de sinalização, tapumes ou cercas.
Como complicador, não há mais polícia de trânsito na cidade, uma vez que a guarda estadual foi retirada de cena, possivelmente depois da municipalização do trânsito em Guarabira. As interferências feitas atualmente nesse sentido se ativeram ao reacendimento cíclico das faixas de pedestre. Ao que parece, estamos em meio a um impasse. A polícia de trânsito do Estado não pode mais, enquanto a guarda municipal de transito não pode ainda, até porque sequer foi criada.
A analogia cabe, da mesma forma, ao sistema de esgotamento de águas pluviais da Pedro II que, ao que parece, deixou de funcionar antes que o novo entrasse em operação.
Por essas e por outras não se pode, no custo das soluções retardadas, incluir o tal “preço do progresso”, pelo menos da forma como vem sendo feito.O que a população anseia é por respostas técnicas consistentes sobre o andamento da obra. O verdadeiro progresso, nos dias atuais, inclui, necessariamente, modernidade e agilidade na solução dos desafios impostos a quem se pretende bom gestor, seja ele público ou da iniciativa privada.
Nessa linha de raciocínio, estaríamos “bi tributados”, seja pelo que nos foi sonegado durante muito tempo, sem justificativas plausíveis, pelos mesmos que se alternam há dois pares de décadas no comando do município, seja pelos incômodos decorrentes da excessiva lerdeza na execução da tal obra. Neste caso, não faz diferença se o problema tem origem na empresa contratada, ou em quem a contratou.
Passamos os últimos quarenta invernos vendo a água das chuvas invadirem os estabelecimentos comerciais da Pedro II e escoarem, lentamente, clamando por um ralo mais calibroso, colocado no fundo dessa banheira. Foram anos a fio, sob o eco dos reclamos por uma solução de engenharia que, como pôde ser observado, nem era tão cara que não pudéssemos arcar, nem tão inalcançável e complexa que não a merecêssemos.
No cálculo do prazo para realização da obra, por certo, foi incluída uma perigosa variável, ou seja, a impontualidade de São José com relação ao início da estação das águas. Para o inverno deste ano, a boa e recriadora chuva, da qual tanto precisamos para encher os nossos reservatórios e para fazer brotar as culturas de colheita junina, parece não ser bem vinda, pelo menos em Guarabira.
Não vai parecer estranho se os comerciantes se organizarem em grupos ecumênicos para a celebração de cultos, terços e novenas, elevando suas preces aos santos encarregados das chuvas, pedindo para, ao invés de abrir a torneira do inverno, fechá-la, como apavorados ribeirinhos de uma lagoa empanzinada com mais água do que suportou beber.
No próximo inverno sim, a obra certamente estará concluída. Então, ninguém mais, por maior que seja o dilúvio, ousará lembrar dos percalços deste ano e de todos os outros de sofrimentos. A razão é simples e óbvia, estaremos às portas de mais uma eleição. Por enquanto, hão de dizer: houve boa intenção, e disso não há que se duvidar.
Finalizando, recomendo a releitura, ou mesmo a leitura, da Fábula do Homem Bem Intencionado, do baiano Araken Vaz Galvão, para dizer que aos homens até cabe a boa intenção, mas, quando se trata da administração pública, o que pesa mesmo e tem valia, é eficiência.