Para quem começou a pegar onda em uma tampa de isopor, onde o pai conservava o pescado de um dia de trabalho, ser o melhor surfista do mundo parecia um sonho distante. Mas, a partir deste domingo, essa longa jornada que começou como uma brincadeira nas praias de Baía Formosa-RN pode se tornar realidade nas ondas de Pipeline, no Havaí. Pela primeira vez na carreira, Ítalo Ferreira chega na última etapa do ano com chances reais de título.
– Às vezes, eu nem acredito que estou no topo do mundo. Tem sido surreal para mim! Graças à minha fé e perseverança. Deus tem me proporcionado os melhores momentos sempre. Mas eu preciso finalizar isso – disse Ítalo.
Ítalo assumiu o posto de número 1 do ranking, após uma arrancada com duas finais nas últimas etapas na Europa, sendo um título em Portugal. Entre os 4 rivais na briga pelo primeiro caneco, estão dois amigos e compatriotas: Gabriel Medina e Filipe Toledo. Os três também disputam as duas vagas do Brasil para a Olimpíada de 2020, em Tóquio. Jordy Smith (AFS) e Kolohe Andino (EUA) são os outros dois postulantes ao título mundial.
– Está sendo um ano bem disputado! Eu tive a oportunidade de poder melhorar os meus resultados nos últimos eventos, me deixando em uma posição melhor no ranking. Mas tem muito trabalho a ser feito. Seria um prazer representar o Brasil na Olimpíada, mas tenho um desafio maior antes disso.
Qual o sentimento de estar pela primeira vez disputando um título mundial no Havaí?
– Eu me sinto muito feliz, ano passado eu venci 3 eventos e tava fora do título e neste ano tive 4 finais e venci 2 eventos… fui mais constante e achei meu equilíbrio.
Como tem sido a sua preparação?
– Assim que acabou o evento na Europa, eu fui pra casa e comecei os treinos físicos. Todos os dias 2 treinos por dia, sem exceção! Isso me deixa forte mentalmente e confortável para a viagem e apenas surfar. Cheguei no Havaí cedo, não tenho muita experiência em Pipe. Mas estou me dedicando todos os dias nessa onda, que é muito difícil! Além de ter muitos locais na água sempre que tem onda.
Você já se sente confortável em Pipeline? É uma onda diferente?
– Confortável eu diria que sim. Está sendo um desafio a cada surfe. Na bateria, será mais fácil pelo fato de apenas ter 2 atletas disputando as melhores ondas, aos invés de 30 locais ( risos ). É uma onda difícil e pesada. Mas será divertido até o final! Gosto de desafio.
Você acha que ter Noronha, o “Havaí brasileiro”, como o quintal da sua casa, pode te ajudar?
– Eu tenho muito o que aprender nos tubos. Só que hoje eu me sinto bem mais preparado pelo fato de ter Noronha ali do lado, uma onda tubular e pesada. Sempre que tem swell, eu vou lá e fico os dias que têm ondas boas para treinar e me preparar para as etapas de tubo.
O que você pode falar dos seu adversários na briga pelo título (Gabriel, Jordy, Filipe e Kolohe)?
– Todos os atletas são bons em Pipe. Esses caras, em específico, são os melhores no momento. Será uma disputa e tanto. Estou feliz de poder fazer parte deste show junto com eles.
Você estreou na elite em 2015, mas a sua primeira vitória no tour só veio ano passado. E agora você já tem 5. O que faltava para você vencer?
– Trabalhar mais, ter as pessoas certas ao meu lado e ser feliz.
Qual a sua maior inspiração para buscar esse título mundial?
– Meu avô, minha avó (que se foi esses dias) e o meu tio. Hoje são essas pessoas que me dão toda a energia necessária para poder alcançar meu objetivo. Eu irei fazer de tudo para isso acontecer! E, claro, exaltar Deus no lugar mais alto do pódio.
Do Globoesporte.com