Por Alexandre Henriques
Um enteado de Guarabira como eu, em data tão importante do nosso calendário, não poderia deixar de fazer este registro e de tecer algumas considerações do meu pensar sobre a vivência nesta terra e sobre a história da urbe, logo na ocasião em que a minha “boadrasta” completa mais um ano da sua fundação.
Cheguei para ficar em 1966, mas já tinha vindo antes, de férias. Tive mais sorte na viagem do que Adonias Fernandes, que veio a pé, retirante, das mesmas bandas de onde vim. Adonias “fez” Guarabira, como os imigrantes italianos no século passado fizeram a América. Transitou, de forma sempre ascendente, de “puxador” de agave a auxiliar de alfaiate, de funcionário público a empresário. Plantou árvores, plantou filhos, plantou empreendimentos, declarando, de forma larga, o seu gostar por esta terra de céu rasgadamente azul nesta época do ano, fronteira de transição entre o molhado do brejo e a sequidão da caatinga, bonita de inverno a verão. Se nesta minha visão há algum exagero, este fica por conta do meu olhar explicitamente passional, quando se trata de Guarabira.
Minha primeira viagem para estas bandas foi feita em um “misto”, híbrido de caminhão e ônibus, de cargueiro e transportador de pessoas. A visão de menino que tudo agiganta fez a velha adutora de água localizada na entrada da cidade, nas imediações do posto fiscal, parecer um aqueduto romano. A adutora foi soterrada e o posto fiscal foi demolido. Coisas do nosso crescimento urbano.
Somente depois fui saber que Augusto de Almeida, com sua visão de sanitarista, havia transformado em realidade a construção da barragem do Tauá, da caixa d’água da Santa Terezinha e da adutora que até hoje transporta parte da água que consumimos. Eram tempos de Edvardo, de Consuelo e de Nino Toscano, fiéis escudeiros de Augusto de Almeida. Enquanto nos dias atuais algumas cidades no entorno de Guarabira já começam a gritar de sede, a água continua perene em nossas torneiras. Poucos se dão conta de que somente por isso já poderíamos ser considerados ricos.
A Santa Terezinha da primeira caixa d’água também foi paisagem da minha infância e do seu topo podíamos divisar quase toda a cidade de então, com exceção do Xamêgo (hoje Nordeste) e do Juá, que se escondiam por trás de elevações.
Santa Terezinha da Rua da Metade, do Cachimbo Eterno, da Nova Descoberta e do Cai Pau. Santa Terezinha de Joana Toco, Nicolau Pessoa, João Gavião, Zuca do Leite, Seu Antonio da Bodega, Severino da Malária, Mathias Pereira e do pastor Ananias; de Cunca, Roxo, João Doido, Raimundo Nicolau, Sôia e de tantos outros sapateiros, categoria politizada que tinha em Chico do Baita um de seus maiores expoentes.
Aos pés da Santa se esparramava a Estrela, o mais importante dos nossos cabarés, também apagado pela borracha do tempo, mas nunca esquecido na lembrança de quem chegou a vê-lo em seu auge, atraindo notívagos como as luzes atraem as mariposas. Teria sido realmente apagado se por baixo do novo pavimento não pudessem ser encontradas impressas as pegadas de Zé Vieira, Antônio Moura, Rui do IBGE, José Tavares, Belimário Cabral, Dedé Lira, Pedrinho Emídio, Manoel do Caroço e tantos outros guerreiros, que não se renderam à contrariedade das esposas e namoradas, nem tampouco a ira santa do Monsenhor, que transformava as queixas das mulheres segredadas ao pé do confessionário, em promessa de inferno para infiéis em seus ameaçadores sermões.
Privilégio mesmo era o de seu Zé Madruga, cujo armazém comercial tinha localização estratégica, na Praça Benjamin Constant, no centro da Estrela. A Praça da Estrela, o nome sugere, nasceu para brilhar, mas acabou sendo transformada, nos dias atuais, em uma laje quente, inóspita e subutilizada, além de saudosa do verde e da sombra das castanholas.
Seu Madruga, homem de posses, viúvo, reunia as condições que o deixavam tanto mais próximo quanto liberado para dos prazeres da carne. Antônio de Amália sabia que, dentre outros mimos patrimoniais, seu Madruga era dono e senhor de muitas das casas do meretrício. Contam que o velho comerciante recebia aluguéis desses imóveis “in natura” e isso o fazia se sentir muito mais rico que já era.
Também do alto da Santa Terezinha podíamos divisar a florada dos ipês na Serra da Jurema, moldura natural da cidade e importante patrimônio geográfico do município. Roxos de vergonha e brancos de medo, os ipês dessas colorações deixaram apenas os mirrados amarelos para testemunhar do que somos capazes quando se trata de degradação do meio ambiente. Casas de morro acima e água de morro abaixo, lá se vai a erosão descobrindo e carcomendo a velha serra, diante dos nossos olhos perplexos, porém permissivos.
Dos tempos de Augusto de Almeida também é o Mercado Novo, que de tão velho foi anunciada a construção de outro no mesmo espaço, e já não era sem tempo.
O que dizer então do Mercado Velho, cheio de arranjos e remendos como uma colcha de retalhos, antigo e ultrapassado, para não dizer, dos tempos de Sabiniano.
A nossa feira, que é uma das maiores do interior do Nordeste depois da de Caruaru, vai ficando a cada dia mais comprimida por falta de espanco. Ela desenha, de forma reflexa, o retrato da nossa pujança econômica fundada no comércio, comércio este que, por sua vez, se esteia na saga agropastoril da região polarizada. Hoje, a incipiente atividade industrial ajuda a compor esse quadro de grandeza refletido no nosso maior e mais constante evento comercial, que é a feira livre.
A diversidade do que é oferecido na feira de Guarabira é impressionante. Tem queijo de Caicó́, peixe de Cruzeta, carne de sol de Picuí, manteiga de garrafa de Caiçara, caranguejo de Marcação, bode e carneiro de Itabaiana, abacaxi de Sapé, fumo de rolo de Mari, feijão de Araruna, inhame de Araçagi além de gente destes e de muitos outros lugares, enfim, um luxuriante espetáculo de cores e de movimento, cuja beleza plástica não enche apenas os olhos, mas invade as narinas e atiça o paladar para a delícia das frutas e verdura e para tudo que é preparado em termos de comida, mexendo com todos os sentidos de forma sinestésica. Em toscos bancos de madeira, fumegam fogareiros de barro, com panelas de buchada, bode, picado e galinha, dentre outros guisados e ensopados. Todo esse cardápio pode ser saboreado acompanhado das mais honestas ou promíscuas cachaças produzidas na região, sejam elas brancas ou de “pau dentro”, as famosas infusões de ervas e raízes que prometem a cura de alguns males, inclusive os da lucidez e da sobriedade.
Sobre a feira de Guarabira bem disse certa vez Wilson Catacumba, convocado a concordar com alguns comerciantes e artesãos que começavam a ir buscar novas oportunidades, mascateando em feiras do vizinho Estado do Rio Grande do Norte. Descrente da empreitada argumentou Catacumba: “Dona Maria Doca, vendendo tapioca, bolo baeta e café, sozinha, ainda apura mais do que toda a feira de Nova Cruz.” A barraca de Maria Doca era madrugadora e atendia tanto os que se demoravam na farra como os que chegavam mais cedo para a feira. Ficava na Rua da Lagoa, em um recuo descalço de um dos armazéns de Cunha Rego.
Dos tempos de Álvaro Jorge, Bezerra Bastos, Mario Serrano, Cunha Rego e do italiano Seu Musce o que sei é de ouvir dizer. Marivardo Toscano é quem desfia como ninguém a Guarabira dessa época, percorrendo imaginariamente seus espaços, ruas e becos, remontando a cena do passado. A Guarabira que foi de Álvaro Jorge foi também de Luiz Carneiro, de Severino Gomes, de José Januncio e de Raul Mouzinho, comerciários que se tornariam comerciantes como tantos outros da época. De Cunha Rego restou apenas o frontão em ruínas da sua casa de morada, seguido do prédio que abrigou o empório comercial. Os traços da arquitetura neoclássica continuam sendo irremediavelmente destruídos, dando lugar ao conceito favelar de paredes revestidas com cerâmica de piso. Se algo não for feito restarão apenas as fotografias.
Cheguei à cidade quando ela ainda era de Emiliano de Cristo, do seu rigor a serviço da obra de Deus, mas também da sua intransigência com os comunistas. Sua repulsa aos vermelhos era a mesma de Tenente Luna. Os vi algumas vezes em demoradas conversas na Praça da Matriz, hoje da Catedral. Eu, menino de calças curtas brincando na praça, observava, com um rabo de olho, o colóquio um tanto quanto habitual dos dois, mas estava longe de compreender do que falavam homens de tanto siso e de tão pouco riso.
A Praça da Matriz foi e ainda é endereço de figuras carimbadas das lides políticas e da aristocracia rural da região, conservando, até hoje, os resquícios dessa época, através do que sobrou do conjunto arquitetônico. Lá se instalaram o coronel João Pimentel e também Edson Cunha, filho e herdeiro político do também coronel Francisco Pimentel da Cunha, “Seu Cozinho”. Um pouco mais perto da Matriz morou Seu Bené, tio de Osmar de Aquino, cego e solitário. Vestido com desleixados ternos que um dia até poderiam ter sido brancos, calçado tamancos de madeira e portando à mão um jucá que lhe servia de bengala. Trazia na ponta da língua um destampatório de palavrões, sacado todas as vezes que era apelidado (?) ou que alguém ousasse falar mal de Osmar. Versado em zoologia, fez certa vez um discurso onde afirmou ter procurado no reino animal uma espécie que se assemelhasse a um dos adversários políticos de Osmar. Disse ele que depois de muita procura localizou o tal adversário exatamente entre os batráquios, ou mais precisamente o “bufo ictericus”, o popular sapo- cururu.
Alcancei a época em que o Rio Guarabira ainda não era a serpente negra e fétida que é hoje e para a qual a cidade deu as costas. Sua água cristalina passava frouxa pela ponte da Rua da Barra, seguindo em direção às pontes de ferro e a de tábua da Rua do Boi Choco. Nesse tempo não havia em seu curso qualquer empecilho de latas, garrafas plásticas, sofás ou pneus. O rio fluía tranquilo e cheio de vida. Depois das pontes o Guarabira se encontrava com o Riacho dos Cachorros, também reduzido à condição de esgoto. A paisagem urbana ia dando lugar à rural, mas não antes do Rio ter curvado lambendo o cais da Estação Conde D’eu e os quintais da parteira Rosalva, dos Ché, dos Pachecos e de Almeida Egito, egípcio que trouxe a primeira bola de futebol para Guarabira, artefato que lhe rendeu sua prisão em Belém de Caiçara, como conta Vicente Barbosa em seu livro. De lá o Rio seguia sereno para as bandas do Mamanguape. Suas margens férteis também forneceram a areia branca e fina que ajudou a cidade a aumentar de tamanho, sendo transportada em lombo de jumentos tocados por hábeis tangerinos e seus chicotes estaladores. Hoje a cidade retribui com lixo e dejetos o que recebeu e poucos se apiedam do Rio moribundo.
Da cena descrita o cais não mais existe, foi-se junto com a garagem das máquinas, a roda de giro das locomotivas e a velha caixa d’agua de ferro, que enchia a pança das Marias Fumaça, para que pudessem movimentar suas caldeiras. A estação de passageiros e a plataforma estão em ruínas, enquanto a velha ponte de ferro, dos tempos do império, dá sinais de que aguenta mais um século de intempéries, se alguém fizer a gentileza de lhe dar uma demão de tinta.
O trem deixou saudades. Um dos mais saudosos, por certo, foi cabeceiro Bidu, com o seu chapéu de meia bola forrado com trapos servindo de rodilha. A chapa de ágata de no 6 presa na lapela do surrado paletó, indicava a sua autorização para carregar bagagens. Foi-se o trem, ficou Bidú, sorrindo chaplinianamente, caminhando com seu passo bêbado pelo entorno da estação, como se preso a uma força gravitacional, com olhar perdido no horizonte e a boca cerrada, sem dizer palavra.
Bom mesmo era quando ao invés de mercadorias e passageiros o trem vinha carregado de alegria, de palhaços, macacos, bailarinas, tigres, contorcionistas e música, muita musica. Vi poucas vezes as chegadas dessas cargas preciosas, mas foi o suficiente para se tornar inesquecível. Um trem todinho de alegria, que fazia meninos como eu perderem o sono. O pouco que conseguíamos dormir depois da chegada do circo, era para sonhar com o dia estréia. Muitos devem lembrar que Jurandir Feliciano um dia foi chamado de Jurandir Cachacinha. Em uma ressaca dessas que o vivente costuma dizer que amanheceu com um gosto de manobra de trem na boca (para não sair do tema) deparou-se ele, em pleno Beco da Candeia, com um elefante. Tal foi o susto que Jurandir correu para a bodega de dona Mocinha Toscano, sua mãe de criação, branco de susto e molhado do medo: “Mãe, tenho que parar de beber, acabei de ver um elefante no Beco da Candeia”. Não, dessa vez não era o fruto dos delírios que azucrinavam Cachacinha em suas ressacas, era mais um circo chegando de trem a Guarabira.
Imagino a paisagem quase cabralina com a qual se deparou Costa Beiriz e o que ele pensou ao resolver se fixar às margens da lagoa que a cidade encheu de alicerces de prédios, mas que volta na estação das chuvas a infernizar os comerciantes instalados no que seria antigamente a parte mais funda da aguada. Que digam antigos comerciantes da área como Seu Sena, Antônio André, João Porpino, Wilame Coelho, Manoel Maciel, Seu Tejo, Humberto Aranha, Walfredo e Eloi Pereira, Dona Tinôca, Ariosto Trócoli, Getúlio Henriques, Leodegário Nunes e Antônio Rato. Hoje talvez já saibam através do proprio Costa Beiriz a razão dele ter escolhido lugar tão alagado para fundar a povoação. Das calçadas como a de seu Campelo, a água minava de inverno a verão e, ao pisar nos rachões do passeio, não raro, essa água esguichava sujando o nosso linho domingueiro.
Otacílio Martins sabe muito sobre os comerciantes que passaram pela Pedro II, pois tem o privilégio da boa memória, além de ter sido um dos últimos comerciantes de antigamente a fechar a sua bodega. Seu Otacílio, como é mais conhecido, é fonte viva da história do comércio local.
Os meus primeiros anos de Guarabira foram tempos políticos de ARENA e MDB; de Pimentéis, Paulinos e Amorins. Eram também tempos de Solon Benevides e da sua verve refinada e inteligente a distribuir títulos de nobreza a quem ele entendia possuí-la, como no caso do Barão da Pedra Branca, do Duque de Gravatá, do Marquês do Espinho e do Grão Duque do Jardim, sem deixar também de contemplar os clãs locais, como no caso dos Kennedy de Itamatai. Valia a pena, certas vezes, discordar da argumentação de Solon, só para que ele voltasse toda a sua carga retórica no sentido convencer o interlocutor. Quando mesmo assim não conseguia dobrar o refratário, levava as duas mãos à cabeça como se arrumasse o cabelo que não tinha e disparava frases geniais como: “Meu filho… meu filho, você é de uma burrice mineral”
A míngua de historiadores interessados em mergulhar no nosso passado citadino de forma mais abissal e empurrando por alguns amigos que dizem gostar da minha prosa, atrevo-me, vez por outra, a buscar de memória e fundado em nossa rica tradição oral, os elementos necessários à construção de textos como o de agora, porém sem qualquer compromisso.
Isto fica mais fácil uma vez que fiz parte de uma juventude a quem foi dado sonhar. Acredito firmemente que onde houver um jovem saudável haverá uma utopia, haverá o desejo de construir um tempo melhor para os que habitarão o futuro, esse lugar para onde todos pensam que vão, mas acabam ficando pelo caminho.
Sou avesso a saudosismos, mas já fomos rotulados de Moscouzinha Brejeira, ameaçadora da ordem imposta após 1964, rebelde por essência, e mais ainda nos tempos de Agassiz Almeida, Bento da Gama, Henrique Miranda, Maria Cuba e Pedro Fogueteiro. Em tempos das Ligas Camponesas.
A oratória, o mais imediato dos recursos da mídia de então, fabricava heróis como Osmar de Aquino, Silvio Porto, Cleanto Coelho, Vicente Pontes, Martinho Alves, Jáder Pimentel e tantos outros, que iam do estilo clássico de oratória ao inflamado, motivados pelos aplausos da multidão. Nesse tempo ninguém perdia um comício para assistir uma novela.
A juventude a qual pertenci foi certa vez aglutinada por Zezinho Chinês, que contagiou a todos com o seu sonho libertário e com a sua irreverência. Armado de um discurso valente e destemido foi comparado, pela aparência, a um guerrilheiro tupamaro. Dividiu o palanque em Guarabira com Lula, Ulisses Guimarães e outros destacados nomes da política local e nacional, nas grandes jornadas pela redemocratização do País. Na realidade Zezinho não era mais que um jovem vindo de Canafístula dos Félix que sonhava ocupar espaço na política local e acabou nos deixando no meio da caminhada. Não morreu a morte dos anônimos, ficou definitivamente inscrito na história da nossa rebeldia. Eram tempos do Grêmio Cultural, tempos de Nau Caveira, Isabel Cavalcante, Percinaldo, Cleoma Toscano, Beto de Ariosto, Vicente Barbosa, Calcélio Galvão, Homero Bezerra, Antonio do Amaral, Marcela Sitônio, Betinho Araújo, Buzuca, Saulo Benevides, Mazinho Sibito, Bié, Padinha e Chico da Farmácia, entre outros.
As certezas que carregávamos à época, muitas delas podem até ter se esfarelado ao longo do tempo. Contabilizem-se apenas as que se mantiveram monolíticas, e vamos descobrir que elas hoje são motor da nossa existência.
A musa dessas palavras é a cidade que escolhi para viver. Aqui também plantei árvores, filhos e dela recebi todas as benesses, participando, do meu flanco, das lutas que me foram postas, mas só e efetivamente daquelas que entendi justas.
Guarabira, como nos versos de Adelino Moreira, chega à sua maturidade centenária “menos ingênua e mais bela”. Quando me refiro à beleza, quero dizer da nossa geografia humana, da mescla homem território, sociedade e espaço; quero dizer das percepções, interações e visão crítica lançada sobre a nossa trajetória.
Que o amor a Guarabira não seja recitado periódica e farisaicamente como fazem alguns políticos. Ao agirem dessa maneira colocam desnuda a própria mediocridade, além de nos roubar tempo e paciência. Não raro nos deparamos com efusivas e escandalosas declarações de amor à cidade, feitas em palanque ou em microfones de rádios, que soam mais falsas que orgasmo de prostituta.
Sou dos que acreditam que o amor ao lugar onde se vive pode ser declarado de forma silenciosa, perene e cidadã, valendo mais o gesto que a fala, contando mais a atitude que o discurso.
Referenciar neste escrito políticos da atualidade e de um tempo recente, seria dar azo a passionalidade que cerca permanentemente a cena politiqueira da cidade, mas deixar de lembrar nomes como o de Antonio e Roberto Paulino, Jáder Pimentel e Zenóbio Toscano seria sonegar várias páginas importantes escritas por esses autores/atores da cena política que hoje, no imaginário, nos bastidores, na liderança de uma disputada fatia eleitoral e no papel principal, representam o estabelecimento político dos últimos 40 anos. A História, despida de emoções, nos dirá quem foi o conciliador, o astuto, o intelectual boêmio e o mais capaz, podendo ser considerada a concomitância da adjetivação, em alguns casos.
Precisaria mais que o espaço de uma crônica para caminhar pelo Cordeiro dos Tunilas, de Enoque Francisco, Malaguti, Zé Cupeiro, Paulino da Matança, Gil Cândido e de Zé Paulo; pelo Rosário de Manoel Marcelino, João Fidelis, Damião Dupipa e de João, irmão de Bolo, ambos filhos de Maria Catita; pela a Rua da Barreira, de Galo, de Judite Carnaval, Seu Santiago, da poetisa Mariza Alverga e da Bodega de Vila; pelo Juá dos Cândidos, Mirandas, de Manoel Perigoso, Capitão Meia Noite, Barrão e Chiquino da Socic. Juá também da bodega de Neco Rato, que nos dias atuais e já há algum tempo, serve de caixa de ressonância de tudo que acontece na cidade; passar pela Napoleão Laureano dos Amorins, Medeiros Paiva, Martins e Meireles; seguir para confluência das ruas do Tambor, do Mosquito e do Arame, território de Bento Souto, Otávio Paiva, Genuino, Manoelzinho Tartaruga e dos Guandus; trilhar pela Rua João Pimentel Filho dos Gadelha Trócoli, dos Victores, dos Diogo de Lima, dos Tertos, Paulinos e Camilos; viajar pela Primavera de Zé Pereira e dos Bulhões; pelo Nordeste dos Matias, de Edgar Ferreira, de Quinca Pereira e de Josa da Padaria; subir o Tororó em direção ao São José dos Baltazares e dos Félix; percorrer a rua Rua do Boi Choco dos Pachecos, dos Oliveiras, dos Freitas, dos Pontes, dos Porpinos e dos Coutinhos; passear pela Almeida Barreto do bodegueiro Zé Gouveia, do músico Felinto e das professoras Madalena, Maria Eulália e ainda de Antônio Mendes, Bina Leite e de seu Elias pai de Totonho; andar pela Rua da Baixinha de Manoel Tenente; Joca Benedito, Bastinha, Estelita Cunha, Seu Rubens, Zezé Xerife, Anísio Paixão e João Barbeiro; seguir pela rua da Barra dos bodegueiros Cícero, Ademar Ferreira e João Viegas. Viajar no tempo pela Epitácio Pessoa, sentindo uma ponta de nostalgia, ao lembrar o Clube Recreativo e de Nanhã na janela da sua casa, com seu cabelo de puro bronze, plumas ao redor do pescoço e exibindo o seu inseparável sinal (feito a lápis) só comparável ao de Marilyn Monroe. Rua Epitácio Pessoa também de Carlos Moura, da Sorveteria de Heleno, do Clube Campestre, de Anísio Maia, Seu Joquinha, Bianor Amaral, Assis Leite e dona Bina da Miudeza. Palmilhar os espaços do bairro Novo (antigo Tapado) desbravado por Expedito Santos e Ulisses de Freitas.
Isso demandaria a feitura de outros escritos, que como este não venha tão carregado de emoções e omissões, já que construído de um só fôlego, no mesmo mergulho.
Parabéns Guarabira pelos seus 133 anos.
Alexandre Moca ahluc@uol.com.br
Alexandre Henriques é cronista, fotógrafo-multimídia